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quinta-feira, 18 de março de 2010

Falso Denuncismo & Relações Intergeracionais


Na sociedade brasileira, hoje mais do que nunca, confundem-se situações de abuso e de exploração comercial de menores com relacionamentos, assim, até mesmo os relacionamentos inofensivos e legítimos entre adulto-menor tornam-se objeto fácil de denúncias preconceituosas, falsas e criminosas. Denunciar anonimamente é fácil, mas torna-se por vezes atitude irresponsável, e deveria ser crime quando este ato de denunciar se baseia em falsas premissas, preconceito e ignorância, por expor a vida de alguém inocente a uma investigação ou a um inquérito constrangedor, que muitas vezes pode deixar marcas psicológicas tão traumáticas e doloridas quanto as marcas que um abuso real pode deixar, marcas no menor, marcas no adulto, ambos indevidamente expostos.

E porque hoje são perseguidos e denunciados muitos relacionamentos adulto-menor, sendo que na história humana estes sempre foram comuns e tolerados?
Talvez os que se abandonam numa posição passiva e confortável estejam sendo cúmplices e coniventes de um governo cada vez mais dominador, intromissivo e imperialista, com olhos 24 horas apontados pra dentro de todos lares, como previu décadas atrás o genial George Orwell (pseudônimo de Eric Arthur Blair), em sua ficção científica “1984”. Talvez achem mais fácil e conveniente relegar a responsabilidade pela criação de seus filhos a um Estado obeso e ineficiente, pois assim não terão que se auto responsabilizar-se pelos erros cometidos. Apesar da maioria dos abusos sexuais de menores ocorrerem no lar, no quesito relações, o Estado não tem a capacidade nem deve ter passe livre pra interferir na vida íntima de seus cidadãos, a não ser em casos em que é óbvia, casos em que é evidente a violência, o abuso ou a exploração sexual. Os políticos brasileiros não controlam nem suas próprias cuecas, que por vezes trafegam recheadas de dinheiro ilegal, assim não há moral nem condições de que queiram gerir os relacionamentos afetivos sexuais de nossa sociedade. Às crianças (pré-adolescentes) deve haver educação sexual de qualidade, totalmente isenta de preconceitos, pra que elas principalmente possam se resguardar do risco de serem exploradas, abusadas ou violadas, e previnam-se convenientemente dos riscos de que a início de atividade sexual, seja também o início de problemas como dst’s e gravidez precoce, e pra que também não disseminem mais preconceitos como a homofobia, o racismo, o preconceito de classes, o de idades, o bullying, etc.

Olhando pra trás, busquemos a liberdade dos relacionamentos intergeracionais nas raízes da raça humana: dos povos nativos e mais primitivos de nosso planeta até à pederastia na sociedade grega que tanto legou à nossa civilização, onde adultos elegiam adolescentes de 12 a 18 anos como seus erastes (efebos amantes e aprendizes, quando havia o consentimento destes); dos primórdios da história da religião ocidental mais poderosa, o cristianismo, no relacionamento entre José, que desposou a mãe de Jesus, Maria, com 14 anos, até o adulto de nossos tempos que tem um romance com um(a) adolescente menor, é fato histórico que sempre foram e são comuns os relacionamentos afetivos sexuais intergeracionais ou inter-etários entre adolescentes e adultos.

Até a cultura popular brasileira em suas mais premiadas, belas e destacadas expressões enaltecem ao jovem, ao adolescente, ao “amormenino”, tão comum é a paixão de adultos por meninos e meninas adolescentes. A música brasileira mundialmente mais executada de todos os tempos, na composição do imortal Tom Jobim, é uma ode à menina, à “Garota de Ipanema”, e não simplesmente à mulher de Ipanema. E são inúmeras as composições românticas dedicadas a meninas e meninos. Mesmo Raul Seixas, o roqueiro brasileiro mais idolatrado de todos os tempos, mostra de forma explícita em sua composição “Baby”, o apelo de sedução dirigido a uma menina que completa seus 13 anos:

“Baby, hoje cê faz treze anos
vejo seus olhos, seus planos
eu sei que você quer deitar,
não, dar ouvido à razão não!
quem manda é o seu coração”

Numa composição mais atual, “Nosso Sonho”, os funkeiros cariocas Claudinho & Buchecha emocionam ao confessar os impecilhos na realização do sonho, que na canção é viver a paixão com uma menina de 12 anos:

“Nossas emoções eram ilícitas, que apesar das vibrações, proibiu o amor, em nossos corações...”

“Seus 12 aninhos permitem, somente um olhar...”


Observando desde tempos passados mais liberais até o início do que hoje se torna uma paranóia ultraprotecionista que acaba por prejudicar crianças e adolescentes em sua liberdade de expressão afetiva e sexual, transcrevo as palavras do psiquiatra especializado em sexualidade humana, Moacir Costa, no livro “Sexualidade na Adolescência – Dilemas e Crescimento”:

“...o modo de vida dos séculos XV e XVI poderia ser chamado de pró sexual. A sensualidade era praticada, as crianças eram acariciadas e estimuladas pelos próprios pais ou pelas amas, para acalmá-las. Eram normais as relações entre adultos e adolescentes e os contatos pré-conjugais eram institucionalizados. Costumava-se dormir nu e no mesmo quarto; assim os jovens não precisavam ser “esclarecidos”, pois podiam ver, assistir, sentir e aprender com os adultos. Nessa época, o sexo ainda não estava separado do resto da vida e ainda era possível exprimir crua e claramente o que se desejava ou se sentia sexualmente. Por exemplo, o adolescente sabia que tinha necessidade de uma mulher e podia falar disto aos pais. Já no século XIX, ao contrário, exprimir abertamente esta necessidade era sinal de corrupção moral. Era outra, então, a forma de ser do homem no mundo.”

Buscando um pouco nos povos mais primitivos, porém formadores da raça brasileira, num artigo da educadora Jimena Furlani sobre pedofilia e abuso sexual, conclui-se com exemplos de como os povos tribais não atribuem carga negativa a relacionamentos afetivo-sexuais entre adultos e menores, já que esta forma de relação em suas culturas não está associado ao uso de violência e poder, ou seja, não estão condicionados a atos de estupro, abuso, exploração sexual ou prostituição. Assim, o problema maior persiste no valor que nós civilizados damos ao poder e ao dinheiro. Segundo a educadora, foram ou são notados em alguns povos indígenas os seguintes hábitos:

“• Entre as tribos Bororó, na América do Sul, meninas na puberdade (10 aos 14 anos) que não estivessem ainda casadas, poderiam participar de sexo grupal, uma vez que aquela cultura não considerava a idade imprópria, tampouco via a virgindade como uma virtude a ser preservada. A idéia de preservação himenal é, sem dúvida, uma herança ocidental trazida com o Cristianismo.

• Entre os povos indígenas norte-americanos Hopi e Navaho, e entre os indígenas da América do Sul, os Sirionós, Kaingáng e Kubeos, as mães acariciam os genitais dos bebês.

• Entre os Yânomamö (América do Sul), os pais, com freqüência, colocavam a boca na vulva de suas filhas para chupá-las.

• Entre os povos indígenas Sirionós, durante o aleitamento, as mães não somente acariciavam o pênis da criança até que ficassem eretos, como também esfregavam o pênis ereto do filho em sua vulva, do mesmo modo que foram observados homens adultos com ereções parciais enquanto brincavam com os órgãos sexuais de seus filhos. Para os Sirionós, o significado conferido à sexualidade era infinitamente menor do que conferimos em nossa sociedade ocidental. Por serem um povo muito castigado com a escassez de alimentos, passavam a maior parte do seu tempo na busca de comida do que conferindo significados negativos aos seus atos sexuais.

• Entre os Trumai (América do Sul), freqüentemente os meninos iniciam as brincadeiras sexuais com homens adultos e às vezes com seus pais. Raramente esses homens tocam nas crianças, elas, por sua vez, é que costumam puxar o pênis dos adultos.”

Pra muitos algumas das descrições acima podem parecer chocantes, ultrajantes ou imorais, porém a realidade destes povos quando isolados e intocados pelos valores ético religiosos de nossa civilização são muito diferentes dos nossos. Além de não se prenderem ao conceito de posse e poder, até a concepção de tempo e espaço de um povo indígena é muito diferente, e não existe pecado algum no sexo ou brincadeira sexual espontânea e consensual sem violência, pouco importando a diferença de idades.

Saindo deste universo mais primitivo e voltando à realidade brasileira contemporânea, mais próxima e palpável, num caso citado e comentado pelo antropólogo e ativista gay Luiz Mott, em seu ensaio “Pedofilia e Pederastia” vemos um exemplo comum, que bem poderia ocorrer em qualquer lugar do Norte-Nordeste brasileiro:

“...um meu amigo negro baiano contou-me que guarda na lembrança o gesto carinhoso de sua mãe, que costumava beijar e chupar sua “rolinha” quando tinha três ou quatro anos. Até hoje é costume entre velhos nordestinos darem um “cheiro” na genitália de meninos de colo. Gestos inocentes e íntimos, que hoje podem levar seus ingênuos autores às barras do tribunal e até a serem linchados pelos cães de guarda da moral dominante. Tudo isto porque a moral tradicional judaico-cristã considera que a criança não tem direito à sexualidade e imagina que sempre que um adulto se relaciona eroticamente com alguém de menor idade, redundará em violência física e trauma psicológico.”

E mais a frente, segue Mott falando do preconceito em relações sexuais entre adultos e menores adolescentes:

“...criou-se a idéia que sempre que alguém mais velho transa com alguém bem mais novo, necessariamente haverá uma relação de poder, abuso e vitimização do menor de idade. Considero preconceituosa tal idéia, pois há registro de centenas de depoimentos de homossexuais e heterossexuais de que foram eles, quando adolescentes, que tomaram a iniciativa de seduzir pessoas mais velhas para transar, e que tais relações foram conduzidas com carinho e delicadeza, sem necessariamente implicar em traumas físicos e psicológicos para tais adolescentes.”

Partindo de relacionamentos afetivos sexuais autênticos entre adultos e menores, em que os dois lados estão interessados e envolvidos, ou até mesmo de carinhos ocasionais e brincadeiras afetivas com algum caráter erótico, até chegarmos em situações reais de violência, abuso e exploração de menores, existem dimensões às vezes intransponíveis de distância, por serem situações extremamente diferentes, opostas e muitas vezes sem paralelo. Uma denúncia falsa ou feita sem base pode escandalizar e causar prejuízos psicológicos tanto ao adulto quanto ao menor envolvido com este. É certo também que muitas vezes abusos podem maquear-se de relacionamentos consentidos e desejados, sem de fato o serem, sendo assim muito difíceis de serem descobertos, e devem ser investigados sim. Porém alguns dos exemplos acima citados deveriam nos fazer refletir que, pouco importando o nome que se dê ao ato em si,
a beleza na diversidade de relacionamentos humanos em culturas e costumes diferentes deve ser respeitada e preservada, com o mesmo empenho que dedicamos hoje à manutenção das espécies em extinção, na medida em que estes comportamentos mostrem-se comprovadamente inofensivos à vida, à liberdade e aos direitos fundamentais de cada ser humano.

E o preconceito intergeracional ou inter-etário (preconceito de idades), em suas mais diversas formas, deveria ser considerado crime contra toda humanidade que se digne de ser livre, sendo que um destes preconceitos mais comuns é o de usar como exemplo atos de exploração e violência cometidos por adultos contra menores pra fomentar o preconceito de que estes seriam padrões no relacionamento adulto-menor, quando ninguém em sã consciência se basearia em casos iguais (de exploração, abuso, estupro e até assassínio) pra proibir ou desmerecer o relacionamento comum entre heterossexuais ou homossexuais adultos.


Por Andrei Blues Boy


Referências:

George Orwell – “1984”

Moacir Costa – “Sexualidade na Adolescência – Dilemas e Crescimento”

Jimena Furlani - http://www.jimena.net/

Luiz Mott – “Pedofilia e Pederastia”

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