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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Falcon e os caçadores de garotos

Nos anos 70, bairro da Bela Vista em São Paulo, nós morávamos na Rua Abolição, nº 343, num prédio de apartamentos de classe média, logo no primeiro andar com vista pra rua.

Lá também, no 9º andar, morava aquele que veio a ser naqueles dias de infância e início de adolescência meu melhor amigo, o Cláudio R. C. Assim como eu e meu irmão éramos belos, Cláudio também era um garoto muito bonito, com os cabelos castanhos cacheados como um anjo, e pele branca com as maçãs do rosto cheias de sardas. Era fofinho, mas não gordo, e um pouco mais baixo do que eu.

Lembro-me um dia, que estávamos “batendo perna” eu, com uns 11-12 anos, o Cláudio e meu irmão Yves, ambos mais novos que eu, quando entramos numa padaria, na Rua Maria Paula, pouco adiante da Câmara Municipal de São Paulo e do Viaduto Jacareí, atravessando a Rua Santo Amaro, já um pouco longe de casa.


Não sei por que havíamos ido até aquela padaria, já que a Palma de Ouro, na Rua Japurá, era bem mais perto, mas talvez só tivéssemos entrado por estar passando ocasionalmente naquele lugar. Entramos pra comprar alguma coisa na padaria, talvez algum doce pra nós.

Assim de repente, Cláudio veio me alertar, que um homem que havia entrado na padaria, tinha passado a mão sobre seu pintinho, ou seja, tinha bolinado ele disfarçadamente, e em pé ao lado da porta aberta do carro gesticulava como eu pude conferir, chamando-nos pra dentro do veículo. O carro estava ligado, com outro homem na direção, e aqueles homens estavam “caçando garotos” pra suas aventuras sexuais. Eu nunca havia me deparado com uma situação como aquela, e óbvio, prevendo o perigo, com nada daquilo me excitando nem um pouco, ficamos seguros na padaria até que eles se fossem, o que não demorou muito, já que eles deviam ter medo que nós os denunciássemos.

Isso é apenas uma especulação, somente o Cláudio poderia confirmar, mas pode ser que o meu amigo pudesse já conhecer aqueles homens, e quisesse nos induzir a participar de algo que pra ele poderia ser usual: sair com aqueles adultos. Isso porque, mesmo o Cláudio sendo mais novo que eu, talvez uns 2 anos, ele já tinha algumas ou muitas experiências sexuais. E me lembro vagamente, embora possa ser uma distorção de memória, que o Cláudio além de nos avisar sobre a intenção sexual dos homens, também disse que eles tinham oferecido doces ou dinheiro, porém o homem que desceu do carro não teve tempo nem privacidade pra isso, já que estávamos nós três juntos, e eu não presenciei nada. Ou seja, tudo muito estranho! 

Era comum nós moleques ouvirmos em turma que o Cláudio “comia” o Beto, menino que morava no final da rua, no mesmo prédio do Paulinho. Também ele costumava ter encontros sexuais com uma menina (Cláudia?) que morava na Rua Santo Amaro. Enfim, embora mais novo, ele tinha suas experiências sexuais.


Eu me lembro nos primeiros dias logo quando conheci o Cláudio, e que levei meu boneco “Falcon, Comandos em Ação” pra brincar no apto. dele. Estávamos no tanque de lavar roupa, na área de serviço, brincando com o Falcon embaixo da água corrente, talvez lavando o boneco, e num momento o Cláudio passou o dedo algumas vezes na bundinha do Falcon, enquanto olhava pra mim dando uma risadinha insinuante, como se estivesse sugerindo algo entre nós. Eu não gostei daquela brincadeira, porque me parecia que ele estava desrespeitando o meu boneco. Sendo sexualmente ingênuo, eu não entendi nada daquela provocação. Foi a primeira vez que eu brinquei na casa dele. Depois quando já tínhamos intimidade, e eu já tinha ouvido das histórias sobre o Cláudio e o Beto, eu me lembro que uma vez estava na porta dele bastante excitado, com minha pica dura, e ele com a porta semi aberta estava me provocando. Mas pelo meu medo e inexperiência, nunca rolou nada sexual entre nós dois, além da atração que eu confesso que sentia, mas reprimia. 

Depois a minha família mudou-se pra um bairro mais abastado, Higienópolis, e me lembro da última vez que vi o Cláudio, que também havia se mudado pra longe, perto da estação de trem do Piqueri, foi quando ele veio me visitar. Quando foi embora, acompanhei-o até o ônibus, e ele me passou a mão na bunda, eu não gostei, assim brigamos e mal nos despedimos, por essa bobagem. O fato é que ele foi um grande amigo e uma paixão reprimida na minha infância. Muitos anos depois o encontrei no Facebook, já com várias filhas e morando em Belém do Pará.

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