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sábado, 20 de março de 2010

Abusos da Palavra & Estigmatização Social

Michael Jackson (29/08/1958 a 25/06/2009) & Márcio Lopes dos Reis (19/03/1979 a 31/03/2009): vítimas de estigmatização social e do excesso de medicamentos controlados.


“Desde simples fofoquinhas veiculadas nas esquinas até as manchetes dos jornais de maior vendagem, a prática social de noticiar e tecer julgamentos sobre a vida íntima das pessoas pode ser extremamente lesiva.”


O que matou Michael Jackson? É a questão que a sociedade americana hoje se propõe a responder nestes dias após sua inesperada morte. Depois de uma rápida conclusão que sua morte foi por conta do abuso de medicamentos controlados, já vemos manchetes anunciando que Michael foi vítima do mal uso e quem sabe até da interação de perigosas e potentes drogas. Resposta rápida mas que no fundo apenas deixa a sociedade aliviada com esta causa mortis de faixada, porque transfere toda a responsabilidade de sua morte pro mal uso (abuso) destas drogas pelo próprio Michael e seus médicos. Mas meu questionamento e minhas respostas vão um pouco mais além. O que fez Michael se afundar neste mundo de drogas perigosas? Não são drogas que se prestam a dar algum barato, porque a maior viagem de Michael lhe era lícita, estava na sua imaginação, na sua forma de ver o mundo com olhos infantis, sem maldade, no seu jeito singular de ser, até que a sociedade lhe mostrou uma face que Michael desconhecia, uma face de violência, constrangimento e opressão. E eu queria ver esta mesma sociedade assumir toda sua culpa, assumir o modus operandi de como acabar com a vida de alguém, como matar pouco a pouco uma pessoa, seja um ídolo, um pop star ou um zé mané. Seria bom que a imprensa assumisse sua culpa e veiculasse assim: “toda a mídia começou a matar Michael em conjunto, dando cobertura ampla aos casos de abuso infantil. É sim, a mídia mata, a sociedade mata em conjunto. A fofoca, a intriga, a mentira e a calúnia sejam de efeito local ou dispersadas pela mídia, matam de forma violenta, pouco a pouco o que é pior, mas matam.”

Desde simples fofoquinhas veiculadas nas esquinas até as manchetes dos jornais de maior vendagem, a prática social de noticiar e tecer julgamentos sobre a vida íntima das pessoas pode ser extremamente lesiva. Assim nós matamos Michael Jackson, um de nossos maiores gênios artísticos. Assim a sociedade matou muitos artistas que não tinham condições psicológicas de enfrentar a infâmia, ou a distorção de informações. Seres sacrificados por uma prática social cotidiana e vulgarizada pela mídia, como declarou Jimi Hendrix: “os tempos que eu queimava minha guitarra isso era como um sacrifício. Vocês sacrificam o que amam. Eu amo minha guitarra”.

E a sociedade matou Michael aos poucos, porque ele nasceu pra entreter e não pra ser entretido. Nasceu pra dar prazer mas não podia ter prazer. Hoje seus fãs dizem: ele era inocente, não era pedófilo. E eu afirmo, ele amava meninos, era pedófilo sim, e mais que isso, era um boylover autêntico: amava meninos, não os abusava. Mas a sociedade aprende com malfeitores diversos que pedófilos são monstros que estupram, que seviciam, que mentem, que manipulam. Observando casos de violências reais contra crianças e adolescentes, talvez existam mesmo “monstros” que assim procedem, mas eu hesitaria em chamar de pedófilos aos que cometem mesmo crimes sexuais violentos com menores, porque desta forma a sociedade condena pela ação de uns poucos e raros indivíduos toda uma sexualidade que é mal compreendida, e acaba perseguindo a todos que se interessam, se encantam ou se apaixonam por menores em geral, sejam crianças, sejam adolescentes.

Continuando em meu questionamento, o que matou Michael? O reverso de sua fama: a infâmia maldita. Hoje em dia não há peso pior do que ser acusado de cometer crime sexual contra crianças e adolescentes, e assim Michael padeceu violentamente: foi ao chão com estas acusações, sob todo o peso do assédio e abuso da mídia internacional. Ainda mais pra um astro de seu porte, imaginem a pressão psicológica que é estar sob estas acusações, a de ser o monstro do momento: o pedófilo. Isso tudo gera desde uma insônia persistente que tira aos poucos sua energia vital até uma dor interior que remédio algum pode conter, então eu compreendo que alguém sob estas condições se afunde cada vez mais em drogas. A mente gera dores que remédio algum pode conter. Todo o remédio que Michael precisava não se vende em drogarias. Era o amor, o carinho, a compreensão, companhia, amizade e todo prazer que seus pequenos amigos poderiam lhe oferecer, mas que lhe foram subitamente afastados. Afinal de contas sexo com crianças é sujeira, pecado e crime não é?

Este é o momento em que a sociedade deve parar e se perguntar o que tem feito e o que quer fazer de suas crianças. Que adulto você se tornou e que tipo de adulto você é? Somos adultos produtivos e consumidores vorazes em uma sociedade que abusa de seus próprios indivíduos e de seus recursos naturais à exaustão? Você sentia-se livre quando criança ou sempre pensava que só seria livre quando compreendesse tudo que os adultos lhe ocultavam, inclusive os mistérios do sexo?

Somos robozinhos ou marionetes cansados de nossos afazeres diários, e que procuram um pouco de alimento intelectual, não importando o quanto este desfrute sacrifica um ser humano, se lhe tira aos poucos sua graça e expressão? Somos ou seremos um dia seres humanos livres, que tem sentimentos e idéias próprios, que valorizam e preservam todas as expressões de beleza, seja a complexidade e a singularidade da natureza de cada ser deste planeta, seja um por de sol, uma noite enluarada, o mar sereno ou revolto, seja a nudez de um menino ou a sensualidade de uma ninfeta?

Você se põe a pensar e se lembra de como o sexo era visto quando você era criança? De como nós todos vivemos numa Disneylandia assexuada até nos depararmos com nosso próprio interesse sexual na adolescência? De como as crianças tem sua sexualidade reprimida, ao ponto de sentirem-se constrangidas com este assunto que deveria ser natural? De como uma besta maligna tem usado o sexo pra afastar cada vez mais adultos, adolescentes e crianças como seres de espécies diferentes, e ao mesmo tempo estimula o comportamento violento e psicoses através de filmes, games e isolamento?

Cultuamos a violência, a mentira e a falsidade, assim chegou o momento histórico em que existem crianças que adquirem já na infância toda falsidade que antes só um adulto poderia ter. De fato em muitas crianças acabou-se a inocência, enquanto que em muitos adultos esta ainda consegue ser mantida a altos custos. E o que veio a corromper esta idade dourada não foi o sexo, porque não é o sexo que nos tira a inocência, mas a forma como nós lidamos com nossos próprios desejos e questionamentos. Se usamos de falsidade pra responder a questões essenciais, nossa vida também se reveste de falsidade, e assim a humanidade vive cultuando as mentiras que quer fazer crer como verdadeiras. Se isso traz muito dinheiro pra alguns, pouco importa àqueles a quem a mentira venha a sacrificar. Assim pra suportar a estigmatização social, Michael foi criando sua máscara pra viver, porque só assim conseguia encarar o demônio da falsidade, como artista. Tinha que ser todo o tempo Michael o artista, e esconder a Michael, o ser humano. Mas tudo que ele queria era o que todo ser humano quer: viver com prazer e ser feliz ao lado de seus semelhantes. Todos sonham o paraíso, mas vivendo em mentira cultuamos o inferno.

É um sonho meu, que um dia boylovers do mundo inteiro vistam uma camisa com os dizeres: “Michael, eu sou como você, amo meninos, não os abuso!” assim como Renato Russo um dia afirmou em sua música: “eu gosto de meninos e meninas”. Mas sexo na adolescência continua sendo um tabu; adultos que se envolvem com menores continuam sendo marginalizados e socialmente executados; e as pessoas continuam a confundir relacionamentos consentidos e momentos de prazer desejados e íntimos entre um menor e um adulto com casos de abuso e violência, pois não conseguem imaginar que seus pequenos um dia também despertam pro desejo sexual, e sexo é limpo e maravilhoso quando entre duas pessoas que se amam e se respeitam, pois assim como já disse o poeta, todo amor é sagrado.

Isso é um desabafo neste ano de 2009, quando só me resta lamentar, chorar e enfim protestar desta forma por duas das pessoas que eu muito amava e admirava como seres humanos terem a chama de suas vidas bruscamente apagadas, ambas por abusos dos mais diversos. Abuso de palavras, abuso de medicamentos, abuso de mentiras... E hoje eu compreendo mais do que nunca que a sociedade tem seus métodos próprios pra exterminar vidas, e muitos dos que se julgam santos são demônios na ativa. Por sorte também há almas iluminadas, anjos que vieram e muitas vezes cedo demais se vão.

Michael Jackson e Márcio Lopes dos Reis, vocês são dois anjos guerreiros da luz, e agora eu confio que sua luta prossiga no firmamento, vocês por lá e nós por cá.


***


Andrei Blues Boy, escrito em Julho de 2009


Vídeo foto no YouTube em homenagem a Márcio Lopes dos Reis (Mágico Aladin): http://www.youtube.com/watch?v=eYuwdPpKPo8

quinta-feira, 18 de março de 2010

Falso Denuncismo & Relações Intergeracionais


Na sociedade brasileira, hoje mais do que nunca, confundem-se situações de abuso e de exploração comercial de menores com relacionamentos, assim, até mesmo os relacionamentos inofensivos e legítimos entre adulto-menor tornam-se objeto fácil de denúncias preconceituosas, falsas e criminosas. Denunciar anonimamente é fácil, mas torna-se por vezes atitude irresponsável, e deveria ser crime quando este ato de denunciar se baseia em falsas premissas, preconceito e ignorância, por expor a vida de alguém inocente a uma investigação ou a um inquérito constrangedor, que muitas vezes pode deixar marcas psicológicas tão traumáticas e doloridas quanto as marcas que um abuso real pode deixar, marcas no menor, marcas no adulto, ambos indevidamente expostos.

E porque hoje são perseguidos e denunciados muitos relacionamentos adulto-menor, sendo que na história humana estes sempre foram comuns e tolerados?
Talvez os que se abandonam numa posição passiva e confortável estejam sendo cúmplices e coniventes de um governo cada vez mais dominador, intromissivo e imperialista, com olhos 24 horas apontados pra dentro de todos lares, como previu décadas atrás o genial George Orwell (pseudônimo de Eric Arthur Blair), em sua ficção científica “1984”. Talvez achem mais fácil e conveniente relegar a responsabilidade pela criação de seus filhos a um Estado obeso e ineficiente, pois assim não terão que se auto responsabilizar-se pelos erros cometidos. Apesar da maioria dos abusos sexuais de menores ocorrerem no lar, no quesito relações, o Estado não tem a capacidade nem deve ter passe livre pra interferir na vida íntima de seus cidadãos, a não ser em casos em que é óbvia, casos em que é evidente a violência, o abuso ou a exploração sexual. Os políticos brasileiros não controlam nem suas próprias cuecas, que por vezes trafegam recheadas de dinheiro ilegal, assim não há moral nem condições de que queiram gerir os relacionamentos afetivos sexuais de nossa sociedade. Às crianças (pré-adolescentes) deve haver educação sexual de qualidade, totalmente isenta de preconceitos, pra que elas principalmente possam se resguardar do risco de serem exploradas, abusadas ou violadas, e previnam-se convenientemente dos riscos de que a início de atividade sexual, seja também o início de problemas como dst’s e gravidez precoce, e pra que também não disseminem mais preconceitos como a homofobia, o racismo, o preconceito de classes, o de idades, o bullying, etc.

Olhando pra trás, busquemos a liberdade dos relacionamentos intergeracionais nas raízes da raça humana: dos povos nativos e mais primitivos de nosso planeta até à pederastia na sociedade grega que tanto legou à nossa civilização, onde adultos elegiam adolescentes de 12 a 18 anos como seus erastes (efebos amantes e aprendizes, quando havia o consentimento destes); dos primórdios da história da religião ocidental mais poderosa, o cristianismo, no relacionamento entre José, que desposou a mãe de Jesus, Maria, com 14 anos, até o adulto de nossos tempos que tem um romance com um(a) adolescente menor, é fato histórico que sempre foram e são comuns os relacionamentos afetivos sexuais intergeracionais ou inter-etários entre adolescentes e adultos.

Até a cultura popular brasileira em suas mais premiadas, belas e destacadas expressões enaltecem ao jovem, ao adolescente, ao “amormenino”, tão comum é a paixão de adultos por meninos e meninas adolescentes. A música brasileira mundialmente mais executada de todos os tempos, na composição do imortal Tom Jobim, é uma ode à menina, à “Garota de Ipanema”, e não simplesmente à mulher de Ipanema. E são inúmeras as composições românticas dedicadas a meninas e meninos. Mesmo Raul Seixas, o roqueiro brasileiro mais idolatrado de todos os tempos, mostra de forma explícita em sua composição “Baby”, o apelo de sedução dirigido a uma menina que completa seus 13 anos:

“Baby, hoje cê faz treze anos
vejo seus olhos, seus planos
eu sei que você quer deitar,
não, dar ouvido à razão não!
quem manda é o seu coração”

Numa composição mais atual, “Nosso Sonho”, os funkeiros cariocas Claudinho & Buchecha emocionam ao confessar os impecilhos na realização do sonho, que na canção é viver a paixão com uma menina de 12 anos:

“Nossas emoções eram ilícitas, que apesar das vibrações, proibiu o amor, em nossos corações...”

“Seus 12 aninhos permitem, somente um olhar...”


Observando desde tempos passados mais liberais até o início do que hoje se torna uma paranóia ultraprotecionista que acaba por prejudicar crianças e adolescentes em sua liberdade de expressão afetiva e sexual, transcrevo as palavras do psiquiatra especializado em sexualidade humana, Moacir Costa, no livro “Sexualidade na Adolescência – Dilemas e Crescimento”:

“...o modo de vida dos séculos XV e XVI poderia ser chamado de pró sexual. A sensualidade era praticada, as crianças eram acariciadas e estimuladas pelos próprios pais ou pelas amas, para acalmá-las. Eram normais as relações entre adultos e adolescentes e os contatos pré-conjugais eram institucionalizados. Costumava-se dormir nu e no mesmo quarto; assim os jovens não precisavam ser “esclarecidos”, pois podiam ver, assistir, sentir e aprender com os adultos. Nessa época, o sexo ainda não estava separado do resto da vida e ainda era possível exprimir crua e claramente o que se desejava ou se sentia sexualmente. Por exemplo, o adolescente sabia que tinha necessidade de uma mulher e podia falar disto aos pais. Já no século XIX, ao contrário, exprimir abertamente esta necessidade era sinal de corrupção moral. Era outra, então, a forma de ser do homem no mundo.”

Buscando um pouco nos povos mais primitivos, porém formadores da raça brasileira, num artigo da educadora Jimena Furlani sobre pedofilia e abuso sexual, conclui-se com exemplos de como os povos tribais não atribuem carga negativa a relacionamentos afetivo-sexuais entre adultos e menores, já que esta forma de relação em suas culturas não está associado ao uso de violência e poder, ou seja, não estão condicionados a atos de estupro, abuso, exploração sexual ou prostituição. Assim, o problema maior persiste no valor que nós civilizados damos ao poder e ao dinheiro. Segundo a educadora, foram ou são notados em alguns povos indígenas os seguintes hábitos:

“• Entre as tribos Bororó, na América do Sul, meninas na puberdade (10 aos 14 anos) que não estivessem ainda casadas, poderiam participar de sexo grupal, uma vez que aquela cultura não considerava a idade imprópria, tampouco via a virgindade como uma virtude a ser preservada. A idéia de preservação himenal é, sem dúvida, uma herança ocidental trazida com o Cristianismo.

• Entre os povos indígenas norte-americanos Hopi e Navaho, e entre os indígenas da América do Sul, os Sirionós, Kaingáng e Kubeos, as mães acariciam os genitais dos bebês.

• Entre os Yânomamö (América do Sul), os pais, com freqüência, colocavam a boca na vulva de suas filhas para chupá-las.

• Entre os povos indígenas Sirionós, durante o aleitamento, as mães não somente acariciavam o pênis da criança até que ficassem eretos, como também esfregavam o pênis ereto do filho em sua vulva, do mesmo modo que foram observados homens adultos com ereções parciais enquanto brincavam com os órgãos sexuais de seus filhos. Para os Sirionós, o significado conferido à sexualidade era infinitamente menor do que conferimos em nossa sociedade ocidental. Por serem um povo muito castigado com a escassez de alimentos, passavam a maior parte do seu tempo na busca de comida do que conferindo significados negativos aos seus atos sexuais.

• Entre os Trumai (América do Sul), freqüentemente os meninos iniciam as brincadeiras sexuais com homens adultos e às vezes com seus pais. Raramente esses homens tocam nas crianças, elas, por sua vez, é que costumam puxar o pênis dos adultos.”

Pra muitos algumas das descrições acima podem parecer chocantes, ultrajantes ou imorais, porém a realidade destes povos quando isolados e intocados pelos valores ético religiosos de nossa civilização são muito diferentes dos nossos. Além de não se prenderem ao conceito de posse e poder, até a concepção de tempo e espaço de um povo indígena é muito diferente, e não existe pecado algum no sexo ou brincadeira sexual espontânea e consensual sem violência, pouco importando a diferença de idades.

Saindo deste universo mais primitivo e voltando à realidade brasileira contemporânea, mais próxima e palpável, num caso citado e comentado pelo antropólogo e ativista gay Luiz Mott, em seu ensaio “Pedofilia e Pederastia” vemos um exemplo comum, que bem poderia ocorrer em qualquer lugar do Norte-Nordeste brasileiro:

“...um meu amigo negro baiano contou-me que guarda na lembrança o gesto carinhoso de sua mãe, que costumava beijar e chupar sua “rolinha” quando tinha três ou quatro anos. Até hoje é costume entre velhos nordestinos darem um “cheiro” na genitália de meninos de colo. Gestos inocentes e íntimos, que hoje podem levar seus ingênuos autores às barras do tribunal e até a serem linchados pelos cães de guarda da moral dominante. Tudo isto porque a moral tradicional judaico-cristã considera que a criança não tem direito à sexualidade e imagina que sempre que um adulto se relaciona eroticamente com alguém de menor idade, redundará em violência física e trauma psicológico.”

E mais a frente, segue Mott falando do preconceito em relações sexuais entre adultos e menores adolescentes:

“...criou-se a idéia que sempre que alguém mais velho transa com alguém bem mais novo, necessariamente haverá uma relação de poder, abuso e vitimização do menor de idade. Considero preconceituosa tal idéia, pois há registro de centenas de depoimentos de homossexuais e heterossexuais de que foram eles, quando adolescentes, que tomaram a iniciativa de seduzir pessoas mais velhas para transar, e que tais relações foram conduzidas com carinho e delicadeza, sem necessariamente implicar em traumas físicos e psicológicos para tais adolescentes.”

Partindo de relacionamentos afetivos sexuais autênticos entre adultos e menores, em que os dois lados estão interessados e envolvidos, ou até mesmo de carinhos ocasionais e brincadeiras afetivas com algum caráter erótico, até chegarmos em situações reais de violência, abuso e exploração de menores, existem dimensões às vezes intransponíveis de distância, por serem situações extremamente diferentes, opostas e muitas vezes sem paralelo. Uma denúncia falsa ou feita sem base pode escandalizar e causar prejuízos psicológicos tanto ao adulto quanto ao menor envolvido com este. É certo também que muitas vezes abusos podem maquear-se de relacionamentos consentidos e desejados, sem de fato o serem, sendo assim muito difíceis de serem descobertos, e devem ser investigados sim. Porém alguns dos exemplos acima citados deveriam nos fazer refletir que, pouco importando o nome que se dê ao ato em si,
a beleza na diversidade de relacionamentos humanos em culturas e costumes diferentes deve ser respeitada e preservada, com o mesmo empenho que dedicamos hoje à manutenção das espécies em extinção, na medida em que estes comportamentos mostrem-se comprovadamente inofensivos à vida, à liberdade e aos direitos fundamentais de cada ser humano.

E o preconceito intergeracional ou inter-etário (preconceito de idades), em suas mais diversas formas, deveria ser considerado crime contra toda humanidade que se digne de ser livre, sendo que um destes preconceitos mais comuns é o de usar como exemplo atos de exploração e violência cometidos por adultos contra menores pra fomentar o preconceito de que estes seriam padrões no relacionamento adulto-menor, quando ninguém em sã consciência se basearia em casos iguais (de exploração, abuso, estupro e até assassínio) pra proibir ou desmerecer o relacionamento comum entre heterossexuais ou homossexuais adultos.


Por Andrei Blues Boy


Referências:

George Orwell – “1984”

Moacir Costa – “Sexualidade na Adolescência – Dilemas e Crescimento”

Jimena Furlani - http://www.jimena.net/

Luiz Mott – “Pedofilia e Pederastia”

quarta-feira, 10 de março de 2010

O Cão Ladra

O cão ladra, morderá também?
Sinto medo e estou quase febril.
Mas não devaneio nas palavras que se seguem...

Eu não quero desmerecer o trabalho de ninguém (minha crítica é pra que este trabalho se torne eficiente de fato, atendendo a necessidade do país), mas este homem, vulgo Magno Malta, que se diz “procurador das crianças do Brasil”, em sua luta contra a pedofilia (na ignorância não escolheram um termo mais adequado, que seria o abuso, exploração e prostituição de menores), levanta sim o preconceito nojento e mortal contra todos adultos que se relacionam amorosamente com menores, ainda que de forma consentida, sem prostituição, sem abuso.

Sim, ele repete ter a “Procuração das Crianças do Brasil” continuamente; esse é um dos seus bordões preferidos. E criança, consideram agora, jogando o ECA no lixo, desde o bebê e menininho de 8, ao adolescente de 14-15 anos, jovens estes que no Brasil, bem poucos anos atrás, sempre tiveram relativa liberdade em gerir seus relacionamentos.

Será que os adolescentes ficaram mais burros e despreparados apesar de todas verbas sociais, pra que em nossos tempos não possam eles mesmos gerir seus relacionamentos? Se toda orientação sobre dst’s, gravidez precoce, prostituição, exploração e abuso não são passados ou captados pelos jovens de forma correta, isso é culpa dos adultos e de todo nosso sistema social. Belos tempos estes em que políticos se põe a averiguar as cuecas do povo, se esquecendo dos dólares roubados da nação que trafegaram e trafegam nas suas! Deve ser infinitamente mais divertido a estes cães se porem de juizes da nação. Aindo espero um novo tempo, meu tempo de ser feliz e de ter liberdade pra amar. E de fato este ainda não é o momento...

Terá realmente este senador a procuração que clama ter? Não, eu realmente não quero ver seu laptop com fotos de jovens torturadas, bebês estuprados ou criancinhas seviciadas. Não me interessa esse tipo de lixo. Eu guardo apenas aquilo que acho belo ou considerável, não vivo pra denunciar ou perseguir ninguém, e ainda sem desfazer de todo seu trabalho não posso negar que fotos chocantes são uma forte arma, pra que você Malta consiga seus objetivos, e a população acate suas solicitações e o tenha como Santo Político do Fim dos Tempos. Pra mim, você é um cão que ladra, poderoso sim, mas espero em Deus que não me morda, mais mordido que já estou.

Senador, eu fui criança, e você nunca teria a minha procuração, nem quando criança, muito menos agora. Sou sim, ao seu lado, contra adultos que estupram, seviciam crianças em um ambiente de dependência familiar, prostituem menores, e os usam. Mas eu fui criança, e quando menino me apaixonei por outros meninos, algumas vezes. Eu sofri com isso, todo o preconceito que alguém pode sofrer por se sentir diferente, excluído e marginalizado.

Hoje sou adulto, e continuo amando meninos, me apaixono por eles. E por suas ações e de outros, me tornei um dos monstrinhos do momento. Pelo estudo que fiz de nossas leis, eu sou livre pra construir meus relacionamentos amorosos com um menor, desde que ele queira isso, tenha 14 anos ou mais, eu não o esteja prostituindo, abusando ou o explorando sexualmente, e os pais não proibam o menor.


Mas parece que a mídia que o tem como benemérito da nação, convenientemente não mostra isso de forma explícita à população. Não interessa né! É muito melhor vender, ter audiência, não importando quantas pessoas estão sendo indevidamente escandalizadas e quantas vidas sejam destruidas. É triste que qualquer adulto que hoje se relacione com um adolescente, podendo ser o caso de amor mais lindo do mundo, é tachado indevidamente como pedófilo e pervertido sexual. É triste que pessoas tenham suas vidas devoradas, mastigadas, cuspidas ou vomitadas por jornalistas sem escrúpulos, policiais e agentes do governo num fast food insano de vidas humanas.

Eu sei senador, que isso em grande parte é culpa sua, e do seu fantoche devorador de pizzas, vulgo Datena, o campeão das matérias de pedofilia, mestre de audiência.

Deveriam ser processados, isso sim, por mim e por todos que sofreram abusos pelas ações dessa mídia perversa, de uma polícia despreparada e sem noção, e por agentes tutelares homófobos e precoceituosos. Vocês deveriam saber que todos preconceitos são crime, tanto de raças, o social, o sexual, o de idades, e os demais. Mas você não quer nem ouvir esta palavra não é?! Preconceito... Por isso você vive discursando contra o Projeto Lei Antihomofobia. Afinal, nas suas contas de santo religioso, homossexuais são pervertidos e querem perverter a toda raça humana, crianças e adultos.

Aceitaria um conselho de um adulto-criança que foi mordido e ferido pelo fanatismo de suas ações? Assista ao filme francês “La Vie En Rose”, e quem sabe um dia você aceita que crianças às vezes são diferentes, se atraem pelo mesmo sexo desde a tenra idade, pois já nasceram diferentes.

Depois assista ao filme autobiográfico “For A Lost Soldier”, e quem sabe você também aprende que meninos e homens às vezes se apaixonam e constroem um relacionamento diferente, e que não devem ser marginalizados ou socialmente executados por isso.

Quem sabe você assim aprende a lutar pela diferenciação e defesa de minorias reprimidas, mas não perversas.

Quem sabe um dia você aceita também que não são só alguns adultos diferentes a se interessar por mais jovens, mas também muitos menores, igualmente se atraem afetiva e sexualmente por pessoas mais velhas, e não fosse a repressão social instalada beirando o caos, viveriam seus relacionamentos em paz. E que nem todos adultos que se interessam e se apaixonam por menores são tarados abusadores, sem ética e noção, doidos apenas por uma relação sexual e perverter um inocente a mais.

Quem sabe um dia você e seu fantoche, o sapo linguarudo Datena, viram pessoas de bem, e daí terei prazer em cumprimentá-los (de longe é claro, pra não ferir-me com a mordida de um ou com a língua de outro).

Por favor, não me morda de novo... Não destrua minha vida. Eu não sou poderoso como vocês, mas Deus me ouve quando eu choro.




Texto por Andrei Blues Boy (Comunidade Anti Preconceito Inter Etário do orkut), dezembro de 2009.